Entenda o mercado atual de vinhos brasileiros
Você sabia que a produção de vinhos brasileiros não vive somente da parte Sul do país?
Convidei meu professor Franklin Bittencourt, da escola de Sommelier “Académie Du Vin”, para aprendermos mais sobre o mercado, atual, de vinhos nacionais.
Aproveitando a oportunidade de minha passagem pelo Brasil, convidei o meu querido professor Franklin Bittencourt, idealizador da escola de Sommelier “Académie Du Vin”, localizada em Vitória, Espírito Santo, para bater um papo sobre o universo dos vinhos no Brasil.
Conversamos principalmente sobre três temas:
– A história do vinho no brasil,
– As diferenças entre os vinhos nacionais para os vinhos importados,
– E como anda o mercado brasileiro de vinhos, e sua projeção para os próximos 10 anos.
Minha primeira pergunta foi sobre a fundação da “Académie Du Vin”. O professor Franklin Bittencourt, me contou que, o projeto surgiu a partir da sua observação de que o mercado do Espírito Santo, apresentava carência de mão de obra especializada no serviço do vinho.
Atualmente mais de 80% dos profissionais de vinho da região, formaram-se na da “Académie Du Vin”.
A história do vinho no Brasil
O vinho chegou ao Brasil, trazido pelos portugueses nos idos de 1532. As primeiras videiras do Brasil foram trazidas pela expedição colonizadora de Martim Afonso de Souza. Que tentou realizar o cultivo em São Paulo, o que não ocorreu conforme o planejado.
Após, em 1626, jesuíta Roque Gonzáles plantou videiras europeias em São Nicolau, nos Sete Povos das Missões, mas também não teve êxito no processo.
Uma nova tentativa, foi realizada em 1742, com a chegada de um grupo de açorianos ao Brasil, a vitivinicultura rio-grandense tenta mais uma vez renascer.
Mas o sucesso no plantio de videiras, somente acontece por volta de 1839 com a introdução das videiras americanas do tipo VITIS LABRUSCA, que se adaptaram muito bem ao nosso clima.
Ao contrário do que se pensa, foi um alemão o responsável pela chegada da videira em terras nacionais.
Somente a partir de 1870 é que os italianos trazem vinhas europeias e a técnica de produção utilizada por eles.
Brasil e suas regiões viníferas
Atualmente, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, são as duas regiões brasileiras que contam com Indicação de Procedência (IP), espécie de assinatura que atesta a qualidade do terroir do país, e também a Denominação de Origem (DO), sistema de certificação que assegura que a bebida possuí procedência geográfica delimitada e que carrega as características do terroir da região, além de seguir as práticas de vitivinicultura regulamentadas pela legislação de um determinado local.
A serra gaúcha faz parte do que chamamos de paralelo 30/50. Ou o que o francês chama de terroir apropriado para o cultivo de videiras.
A região conta com características mais apropriadas para o cultivo da fruta, por exemplo, chove menos no verão e mais no inverno, possuí temperaturas mais frias, o que proporciona uva de melhor qualidade e, consequentemente, vinhos de melhor qualidade também.
Aproveitei, o bate papo com o professor Franklin para conversarmos sobre os vinhos do Vale do São Francisco, região extremamente quente, e que portanto, não teria o terroir apropriado para a produção do vinho, porém já é a terceira maior região de vinhos do Brasil, e conta com a peculiaridade, de fazer até três colheitas ao ano. O que precisa ser muito controlado para que se mantenha a qualidade da bebida. Nas palavras do professor: “A região produz um vinho muito interessante, e diferente. Perfeito para o consumo local”.
O mercado do vinho nacional
O Brasil tem um grande desafio no plantio de uvas estrangeiras. O custo de produção!
Concorremos diretamente com Chile e Argentina que possuem terroir e clima mais apropriados para o plantio da fruta.
Isso acaba deixando o processo produtivo nacional, mais caro e consequentemente, encarecendo o nosso produto final.
Uma grande descoberta para mim, durante a conversa, foi a grande quantidade de uvas italianas que plantamos no Brasil. O professor Franklin Bittencourt me explicou o porquê: “Nossa cultura enológica é italiana, portanto, o mercado espera que a gente produza vinho com uvas italianas”.
São vários tipos de uvas plantadas no sul do Brasil, por descendentes de italianos. Segundo o professor, este é o melhor caminho para o êxito da produção vinícola nacional.
O mercado de vinho espumante brasileiro
Atualmente somos reconhecidos no mundo pela qualidade de nossos vinhos espumantes. Mas será que esse sucesso tem a ver com o gosto do brasileiro, que prefere vinhos espumantes, ou com as características geográficas que facilitam a produção?
Perguntei isso ao professor Franklin Bittencourt, que me contou que esse sucesso está intimamente ligado a nossas características geográficas, como frio e chuva em abundância e pouco Sol da região sul, que facilitam o cultivo e produção deste tipo de produto.
A demanda mundial para o vinho espumante é crescente, e a expectativa é que o Brasil possa atendê-la, em quantidade e qualidade.
E o brasileiro, consome vinho?
Em minhas andanças pelo mundo, tenho notado que o hábito de consumir vinho, e a preocupação com a sua qualidade é uma crescente.
Mas e no Brasil? Será que o brasileiro também tem aumentado o consumo?
Sobre este tema, o professor Franklin Bittencourt foi muito claro: infelizmente o custo Brasil, impossibilita que todos os brasileiros tenham acesso a um bom vinho. Seja ele nacional, pois nossos custos de produção são caros; ou importados, que têm uma taxação alta.
Assim, no Brasil, apenas uma classe mais abastada pode ter acesso a uma bebida de qualidade.
No entanto, o professor Franklin Bittencourt, nos deixa uma dica sensacional quando o assunto é comprar bons vinhos, mesmo tendo pouco dinheiro: “Seja um conhecedor de vinhos! Só assim você conseguirá identificar e consumir excelentes vinhos, gastando pouco”.
E quais são as expectativas do professor para o mercado brasileiro nos próximos 10 anos?
Para nossa felicidade, ele está otimista! Principalmente, com a chegada ao mercado, de produtores de vinhos artesanais, que se comprometem a produzir pouco, mas com muito cuidado e qualidade, e o melhor, com um preço acessível.
Dê o play no vídeo e aproveite essa entrevista recheada de conhecimento sobre vinhos.