Seu QI é alto porque você bebe vinho ou você bebe vinho porque tem um QI alto?

O que nasceu primeiro: o ovo ou a galinha? Essa pergunta já gerou incontáveis debates, mas quando falamos de vinho e inteligência, a resposta deveria ser mais simples.

Nos últimos anos, algumas pesquisas sugeriram que pessoas que bebem vinho possuem QI mais alto e níveis educacionais superiores. Isso deu margem a interpretações rasas, levando alguns a pensarem que o vinho, por si só, aumenta a inteligência.

Mas será que é isso mesmo? Ou estamos apenas confundindo causa e consequência?

Se beber vinho fosse suficiente para elevar o intelecto, todos os apreciadores da bebida seriam gênios. E eu mesma teria me tornado muito mais inteligente apenas pelos rótulos que degustei. Mas, como observei ao longo de duas décadas como advogada, estudando pessoas, culturas e padrões de comportamento, e após visitar 34 países, a inteligência não é um reflexo do que bebemos – mas sim da forma como exploramos o mundo ao nosso redor. Para aprofundar a relação entre vinho, cultura e experiências globais, considere este vídeo onde  compartilho as minhas vivências enoturísticas.

Foi esse olhar curioso que me permitiu escrever, por quatro anos, um livro sobre vinho. E, se hoje me sinto mais inteligente, não é porque bebo vinho – mas porque busquei entender a história, a cultura e as conexões que ele proporciona. Tanto que escrevi em O Despertar do Vinho:

“Observo que vivemos em um mundo globalizado, onde ter conhecimento é fundamental, mas ter consciência do que fazer com ele é o que nos leva além. Por isso, a proposta deste livro é expandir consciências, ampliar seu mundo e levá-lo a um patamar mais elevado ao desfrutar da taça de vinho que está em suas mãos.” (p. 25, O Despertar do Vinho)

Então, a questão real não é se o vinho te faz mais inteligente, mas sim se você usa o vinho como um reflexo das boas escolhas que já faz.

O Advogado, o Vinho caro e a escolha errada

Recentemente, passei por uma situação que ilustra perfeitamente essa confusão entre cultura e inteligência.

Um colega advogado, extremamente inteligente, decidiu escolher o vinho do nosso almoço durante um congresso em São Paulo. Antes mesmo que eu chegasse à mesa, ele já havia feito a seleção: um dos rótulos mais caros da carta, um tinto encorpado com 14,5% de álcool – para acompanhar um salmão com alcaparras.

Erro clássico.

O vinho não harmonizava com o prato, era pesado para um almoço em meio a um evento acadêmico, e ainda por cima não era a melhor escolha para um dia de palestras intensas na parte da tarde.

E aqui está o ponto: esse meu colega bebe vinho há décadas, mas isso não fez dele um grande conhecedor.

O conhecimento sobre vinhos não surge automaticamente com o tempo ou com o dinheiro gasto em rótulos famosos. Assim como não é porque alguém já leu muitos livros que automaticamente entende de literatura. O vinho, assim como qualquer outro conhecimento, exige curiosidade, atenção e interesse real em aprender.

Se inteligência fosse apenas uma questão de consumir vinhos caros, qualquer pessoa com dinheiro teria um paladar refinado. Mas como eu já vi repetidas vezes, muita gente confunde preço com qualidade – e acaba apenas repetindo um discurso vazio. Clique aqui se deseja aprofundar o assunto que no artigo que abordo a importância de compreender as diferenças entre vinhos secos, suaves e doces, destacando que o preço não é o único indicador de qualidade.

Champagne ou Espumante? O Erro que muitos cometem

Outro exemplo clássico disso acontece com os espumantes.

No meu livro, explico sobre as classificações dos espumantes e menciono os rótulos mais icônicos do mundo. Um dos mais famosos, claro, é o Champagne – um vinho espumante produzido exclusivamente na região de Champagne, na França. 

Mas, por mais simples que essa informação pareça, vejo muita gente culta e inteligente cometendo o erro de chamar qualquer espumante de champagne.

Isso não os torna menos inteligentes – apenas evidencia que a cultura sobre vinhos ainda não foi desenvolvida.

Essa informação qualquer pessoa pode aprender. Não é preciso um QI alto, um diploma de Harvard ou um grande poder aquisitivo. Mas é preciso ter curiosidade, querer aprender, estar aberto para o novo.
Porque o vinho não te faz mais inteligente – mas a forma como você o consome pode ser um reflexo da sua inteligência. 

O que a Ciência realmente diz?

Muito se fala sobre os estudos que associam o consumo de vinho a um QI mais alto. Mas será que essa relação realmente existe?

  • Um estudo dinamarquês descobriu que apreciadores de vinho tendem a ter um QI mais alto, mas também apresentavam nível educacional elevado, pais com maior escolaridade e status socioeconômico superior. Conforme o estudo publicado na ResearchGate:

    “O consumo de vinho foi significativamente associado a maior QI, maior nível educacional dos pais e maior status socioeconômico.” (Fonte: ResearchGate)

  • Um estudo suíço analisou 50.000 jovens e encontrou uma relação entre consumo moderado de álcool e inteligência, mas apontou que essa associação estava ligada a fatores como educação, ambiente familiar e características do grupo social.
  • Ambos os estudos confirmaram que beber vinho não te faz mais inteligente – mas pessoas com maior repertório cultural tendem a escolhê-lo.


Apesar dessas evidências, algumas matérias publicadas na imprensa brasileira simplificaram esse tema, sugerindo que o vinho, por si só, seria um fator determinante para a inteligência. Essa abordagem ignora aspectos fundamentais apontados pelos próprios pesquisadores, como o papel do meio social, a influência familiar e o acesso à educação na construção do conhecimento.
Ou seja, a inteligência vem primeiro. O vinho é apenas um reflexo das escolhas de quem já busca conhecimento.

Fechamento – O Ovo, a Galinha e a Inteligência

Voltamos à pergunta inicial: o que nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?
Se formos honestos, quando falamos de vinho e inteligência, a resposta é clara: o QI vem antes.
O vinho não cria inteligência, ele apenas revela o repertório que você já construiu.
Se você escolhe vinho porque busca cultura, história e conhecimento, então ele pode ser um excelente reflexo do seu intelecto. Mas se você apenas bebe vinhos caros porque acha que isso te faz parecer mais culto, talvez seja hora de repensar a sua relação com a bebida.
Porque, no fim das contas, o vinho não te faz mais sábio.
Mas a forma como você o explora pode mostrar o quanto você já é. 🍷

Consumo Consciente: Inteligência Não está na Taça, mas em Quem a Segura

E se inteligência está ligada à forma como fazemos escolhas, isso inclui também como consumimos o vinho.

Mais do que uma bebida, ele pode ser um elo social, um reflexo da nossa relação com o mundo e um indicador do nosso nível de consciência sobre o que ingerimos.

No meu livro O Despertar do Vinho, falo sobre consumo consciente, um conceito que vai além de simplesmente beber com moderação. Trata-se de compreender o impacto do vinho na saúde, na socialização e no bem-estar, algo que civilizações antigas já praticavam muito antes de a ciência começar a estudar os efeitos da bebida.

A Dieta Mediterrânea, por exemplo, tem o vinho como um de seus pilares, mas não como um fim em si mesmo. Ele faz parte de um conjunto de hábitos que envolvem alimentação equilibrada, sociabilidade e bem-estar físico e mental.
Outro ponto que discuto no livro é como o vinho se encaixa na Escada de Maslow, a famosa pirâmide das necessidades humanas. Para alguns, ele pode ser apenas uma forma de prazer sensorial, mas para outros, ele é um instrumento de conexão e aprendizado – um caminho para autorrealização.
Aqui está o grande ponto:

  • O vinho não te torna inteligente.
  • Mas a forma como você escolhe consumi-lo pode revelar muito sobre sua inteligência e sua consciência.


Então, voltamos à pergunta inicial: você bebe vinho porque tem um QI alto ou porque busca conhecimento?
Talvez a resposta esteja não na taça, mas no que você faz com o que aprendeu ao longo da vida.

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