Metanol no vinho? Sim — entenda o que importa

Mas vinho não tem metanol… tem?

Uma amiga me disse outro dia: “Melissa, por isso que eu só tomo vinho — ele não tem metanol, né?”.

Respondi com carinho e sinceridade: tem. E tudo bem. O ponto não é “se tem”, é quanto tem e de onde vem.

Me dando o benefício da dúvida, vem comigo até o fim. Aliás, você nem precisa acreditar em mim agora. Só te convido a ler até o final. Se sair daqui entendendo que saúde não tem relação com vinho caro — nem com o “tinto de toda a vida” — eu já cumpri meu papel.

Sair repetindo o que todo mundo fala sem entender o básico é convite à insegurança. Quando o assunto é bebida alcoólica e saúde, clareza é proteção — e é também um gesto de respeito consigo e com quem brinda com você.

 

Por que existe metanol no vinho?

Vamos ao detalhe — antes da bioquímica rápida (prometo ser gentil), me dá o benefício da dúvida: não é para assustar, é para proteger você de boatos.

O metanol surge naturalmente quando as pectinas da uva são quebradas por enzimas (como a pectin metilesterase) antes e durante a fermentação. Como os tintos passam mais tempo em contato com as cascas, costumam apresentar níveis um pouco maiores que brancos e rosés. É bioquímica do fruto, não adulteração.

E, me dando o benefício da dúvida, mais uma vez, não é para concluir “agora só bebo branco e rosé”… É para entender o processo e fazer escolhas com intenção.

Tradução da técnica: pectina é um componente natural da casca. Ao fermentar uvas (especialmente com casca), um pouquinho de metanol aparece — e isso é esperado em vinhos bem-feitos.

 

Quanto é permitido? (e por quem)

A OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho) define limites que refletem esses níveis naturais: de forma geral, até 150 mg/L para brancos e rosés e até 300 mg/L para tintos (há variações técnicas por estilo, mas a ordem de grandeza é essa). São valores baixos e esperados no vinho de qualidade. Veja o artigo completo da OIV aqui: ( OIV+2OIV+2 )

Observação útil: alguns regulamentos registram o limite por hectolitro de álcool puro; convertendo para o vinho “na garrafa”, a conta cai nessas centenas de mg/L — longe de cenários de risco quando falamos de produção regular.

Na prática: são valores baixos e esperados em vinho bem-feito.

 

Já nos destilados…. a conversa muda…

Fazer a destilação de bebidas é justamente concentrar compostos voláteis — inclusive metanol. Por isso a legislação é dura e específica por categoria.

Exemplos (regulamento europeu, referência técnica amplamente adotada):

  • Vodka: máx. 10 g/hL de álcool 100% vol.
  • Aguardentes de fruta/bagaço: podem ter limites bem mais altos (em geral 1.000 g/hL, chegando a 1.200 –1.500 g/hL conforme a fruta), sempre sob controle em produção legal.

Tradução: me dá mais um gole de benefício da dúvida. O destilado legal é destilado controlado; o risco mora na adulteração.

E sim, eu sei como a cena acontece: bar da esquina, taça colorida “instagramável”, açúcar para disfarçar tudo e a “vodka da promoção”. Por fora, risadas; por dentro, pode ficar bem feio.

E não tem problema nenhum gostar de coquetel — faz parte da nossa cultura e pode ser empoderador. O ponto é que vivemos num país onde toda a cadeia sofre pressão. Às vezes, para fechar as contas, alguém escolhe o insumo mais barato. E aí você entra na roleta da procedência incerta.

 

Eureca: entendeu onde está o risco real?

Nos produtos adulterados e no mercado paralelo. O Brasil já registrou casos de intoxicação por metanol ligados a bebidas adulteradas, o que acende um alerta importantíssimo sobre origem e procedência.

E isso não é de hoje. Enquanto circulam manchetes rasas para viralizar, sobra terreno para frases como “não bebo metanol” ou “agora só vinho, porque não tem metanol”. Obrigada por seguir comigo — o teu benefício da dúvida se converte em critério.

 

Meu mantra (e seu escudo): conheça o produtor e compre do jeito certo

Quando você sabe quem faz, como faz e por quem o produto chega até você, a ansiedade do boato perde força.

  • Prefira vinícolas e importadores confiáveis, com rastreabilidade e nota fiscal.
  • Leia o contrarrótulo: região, produtor, safra, CNPJ/razão social do importador, lote.
  • No contrarrótulo, procure a identificação do MAPA (Ministério da Agricultura): é uma camada a mais de garantia.
  • Procedência não é frescura — é saúde e paz de espírito.

Último pedido de benefício da dúvida: confie menos na frase feita e mais em quem assina a garrafa.

Pense simples: na feira você não compra tomate podre; no mercado, não leva produto vencido. Por que arriscar com a bebida mais barata de origem duvidosa? A lógica é a mesma.

 

Checklist rápido: como não cair em “roubadas”

  • Compre de canais oficiais: lojas especializadas, e-commerces de vinícolas/importadores, supermercados idôneos.
  • Desconfie de milagres: preço bom demais costuma ter “pegadinha”.
  • Olhe a embalagem inteira: cápsula, lacre, rótulo e contrarrótulo (CNPJ, importador, lote).
  • Peça nota fiscal (sempre).
  • Leia com intenção: região, produtor, safra — autenticidade mora nos detalhes.
  • Pesquise a empresa: histórico, atendimento e reputação contam.

 

“Consumo consciente” — um capítulo que eu assino

Em O Despertar do Vinho, dedico um trecho ao álcool e à responsabilidade de beber com intenção: o objetivo não é colecionar taças; é colecionar momentos com presença. Vinho pode ser ponte para conversas melhores, não muleta para fugir delas.

Prática que recomendo sempre: prove os vinhos antes dos petiscos. Depois, volte às harmonizações. Primeiro você percebe o vinho — ele se apresenta; só então vocês dançam juntos no prato.

 

Perguntas que você pode ouvir — e respostas elegantes

“Vinho tem metanol?”
Tem, em níveis naturais e regulamentados, decorrentes da bioquímica da uva. Não é “contaminação”; é processo.

“Então o perigo está no destilado?”
O problema está na adulteração. Destilados legais seguem limites específicos por categoria; fora do padrão, vira caso de saúde pública.

“E cerveja e vinho podem ser contaminados?”
Qualquer bebida pode ser adulterada. Sua proteção é procedência e cadeia formalconhecer o produtor é o melhor começo.

 

Você, na fila da enoteca…

…ouve alguém sussurrar: “Fica tranquila, vinho não tem metanol.”
Você sorri, pensa nos 750 ml de conversa honesta à sua espera, e responde:

— Tem, sim. Em dose certa — como todo encontro que vale a pena. Quer que eu te apresente um bom produtor?

 

Conclusão — o que realmente importa

  • Metanol no vinho existe e faz parte do processo natural.
  • limites claros e padrões internacionais.
  • O risco que assusta as manchetes está na adulteração e no mercado informal, não no vinho de procedência.
  • Conheça o produtor: é o seu melhor filtro de qualidade — e de tranquilidade.

Se este conteúdo ganhou o teu benefício da dúvida, leva contigo esta única regra: conheça o produtor e compre do jeito certo.

Se fez sentido, você vai gostar do meu programa O Código do Vinho — onde destrincho, com calma e método, o que meus alunos já aplicam (inclusive como escolher rótulos com segurança e intenção).

Quer começar leve? Faça o Quiz Interativo dos 12 Perfis de Provadores e descubra seu jeito de sentir o vinho.

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